23.9.07
quero voar. mais que em sonho, mais que a coruja de mago menino. alto e toda como atmosfera, voando, pairando, estando. abraçando em azul. e colocar branco aqui e lá pra chamar olhos suplicantes. leve feito gaivota sobre mar em desenho de criança e tão significativa quanto fumaça de dor japonesa. incenso de flor de laranjeira. impregnar invisivelmente sem ser da marvel comics, bocejar com os olhos e derreter o mel das asas. um mito al(m)ado, tsuru ocidental. quero o destino da pluma, ser folha desgarrada de maple tree tupiniquim. planar (não planejar). esteira laranja do monge, a reverberação do mantra, a palavra-prece posta pra secar no varal. a linguagem gestual esquecida. quero a onda da canga ao vento, saco de supermercado jogando amarelinha. sussurrar cantigas de ninar de vinícius. pegar o chiado de grafite na parede, petelecar a pedra na correnteza. um segredo infantil, a chama da vela do anjo de guarda. a longevidade do aceno de menino em carrossel, algodão doce na palma ansiosa da língua. perfume do licor de jabuticaba, licorporar o grito de congonhas. vestir anil em funeral. yoga no domingo de manhã, sopro pra dentro, o cheiro da tempestade. a pegada da cachorra na terra molhada. o pingo de éter, o alívio na compra do band-aid. quero espreguiçar como gato vira-lata, e bambolear com fitas de cetim na corda do cirque du soleil. o tom da risada, o estalar de dedos dos pés vindos do show de rock. o rosto no pós-orgasmo, a mão beliscando a parede. cochilar numa rede de papiro, puxar fio de bala de côco, recostar a cabeça no ombro magro nú, espalhar cabelos angustiados no colo pequeno de minha mãe. a bênção da vó sobre tatuagem, a cura do sarampo pelo pai. o clima-pontilhista serrano, o cafuné na cabeça de amigo desiludido. quero o nada do ralo de piscina, o piscar involuntário. o ruído de folhear páginas num sebo, o cavalo de clarice, a vírgula de saramago, o entre-versos de britto. e a respiração de peyroux, a respiração de peyroux. quero levezar-me, revezar-me.
ar-me.
e quando me distrair e pesar, evaporar em flicts: beijar teus cílios num zepelim.
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[de tanto a endócrino mandar Una pensar light, do professor de dança dizer pra ela não tocar os pés no chão, e de Aida falar pra ela pegar leve, deu nisso: pensamento vaporoso.]
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7 comentários:
Milene,
mudança de fonte, mudança de voz! Uma´pessoa pode ser composta por sua memória? Neste texto sim, alguém vindo de longe a partir do que sente, caleidoscópio de prazeres, sensações!
Gostei do texto, apesar de longo!
=*
Sinto um perfume de Clarisse pairando neste blog... Faço minhas as palavras do Luiz, gostei muito do texto!!! Beijos!
Fechou o olho e escreveu e clicou em "publicar" pra ler depois né!
Ta lindo demais, sincero demais, pra quem tenha revisado.
linkada ;)
Que delicia de voo. quero voar tambem com todos estes cheiros e sabores. Lindo!!
Fresco, leve, doce e contínuo, seu texto parece escrita automática, ditada pelo sonho e suavizada pela alma. Seu estilo me levou para uma divagação, a sua ou a minha, adoro realmente essa escrita absurda e simples, parece o Raduan Nassar com suas divagações em 'Um cópo de cólera', que aproveito para aconselhar, uma verdadeira viagem na cabeça de um homem. Muito obrigado.
Obrigada, Luiz, pelo "apesar de longo", ficarei mais atenta na próxima.
Obrigada, Pedro, que achou uma aura de Clarice perdida por aqui.
Obrigada, Ricardo, por enxergar a despretensão! ;)
Obrigada, Angie, que faz parte de mtos vôos meus.
Obrigada, Lucas, por me dizer que levo a vôos suaves! Eita!
Thank you all, from the bottom of my heart! :D
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